Adoro críticas! Gostei da crítica social “à portuguesa” na
escrita de Eça de Queirós, quando li A Relíquia; gostei da crítica social “à
inglesa” na obra de Jane Austen, quando li Persuasão e Sensibilidade e Bom Senso;
e agora gostei da crítica social “à francesa” que Gustave Flaubert introduziu
em Madame Bovary.
Este livro conta a história de Emma, filha de um camponês, que casa com
Charles Bovary, um médico de uma pequena localidade. Emma Bovary depressa se
enfada com o casamento e constrói sonhos de amores, paixões ardentes e luxúrias,
através dos romances que lê.
Para além da crítica à burguesia – os que se
centram muito na religião e os que não acreditam de todo e estão constantemente
a tentar provar a sua razão; os conformados e os ambiciosos -, aquilo que,
penso, mais ligará uma leitora ao livro são os defeitos de Emma. E digo “leitora”,
porque acho que haverá um pouco de Madame Bovary em cada mulher, seja nos seus desejos escondidos, na ambição, nas traições, nas mentiras, nas ingenuidades, nas grandes ilusões e expectativas no amor e depois nas ainda maiores desilusões amorosas. Eu que não me
considero nada parecida à Madame Bovary de Flaubert, reconheço, em certas
ingenuidades dela, algumas ingenuidades minhas. Flaubert consegue descrever uma
personagem maioritariamente através dos seus defeitos e vícios, não levando, no
entanto, o leitor a desgostar de Emma. Antes pelo contrário, cria-se um certo
laço de compaixão e compreensão para com ela.
Madame Bovary é um livro nada
entediante que eu recomendo.